O Natal pede
acolhimento
O
‘Acolhimento’ é uma disposição virtuosa, pensada e assumida ou então é um bom
hábito adquirido em família, uma disposição cultural, um gosto de viver recebendo
os outros. Existe o acolhimento como qualidade profissional, no atendimento
público, mas não menos importante é o acolhimento que caracteriza uma pessoa
que assim se manifesta dando lugar aos outros, escutando-os e considerando-os. Na
verdade, só existe acolhimento se houver pessoas acolhedoras.
A
vida humana pede acolhimento para se realizar. A nossa existência é marcada
pelo acolhimento, pois na verdade se não nos tivessem acolhido à nascença não
teríamos subsistido. Porém, para que uma pessoa tenha capacidade de acolher é
necessário que, para isso, tenha tempo e espaço, a começar no coração. Eis aqui,
as dificuldades do nosso tempo que são ‘não haver tempo’ e ser estreito ou
fechado o ‘espaço’ do coração.
A
Sagrada Escritura revela-nos um Deus surpreendente, vivo e santo, que vai ao
encontro do homem para nele encontrar acolhimento. Abraão acolheu três homens
cansados e esfomeados que passavam junto da sua tenda e descobriu que aquelas
três figuras eram a presença e a Bênção de Deus (cf Gen 18,1-19). Jesus não
teve, em Belém, acolhimento para nascer senão no espaço de um curral de animais
(cf. Lc 2,1-7). Um dia, no monte das Oliveiras, Jesus chorou voltado para
Jerusalém porque não encontrou nela acolhimento (cf. Lc 19,41-45); aquela cidade
não reconheceu Aquele que lhe podia dar a paz. No último Livro da Bíblia, o
Apocalipse, somos exortados a estar vigilantes para acolher Deus que se
aproxima da nossa porta: “Eu estou à
porta e chamo. Se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua
casa, cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20).
Esclarece o Evangelho de S. Mateus: “Quando o Filho do Homem vier na sua glória
(...) dirá aos da sua direita: Vinde,
benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a
criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e
destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me
que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo” (Mt
25, 31-36).
O
acolhimento é, assim, condição para que haja Natal. Quis Deus aparecer no mundo
como criança para provocar em todos a capacidade de O acolher. Vamos celebrar o
Natal em pleno Ano Missionário. Neste contexto, o desafio de tornar presente
Deus no mundo, começa pela nossa capacidade de O acolhermos.
Quando
nasceu Jesus em Belém, a escravatura era prática legal. Ele deu a vida para
defender a dignidade de cada pessoa, mas a sua Palavra é desprezada e, por
isso, não faltam no mundo ‘reinos’ de mentira, injustiça, indiferença, ódio e
incapacidade de amar. Não faltam no mundo guerras, tensões e injustiças que têm
como efeito, na atualidade, a existência de dezenas de milhões de pessoas em
situação de escravatura e outras dezenas de milhões a viverem em campos de
refugiados.
O
Natal pede o acolhimento d’Aquele que nos pode dar a paz, acolhimento de uma
outra proposta, uma nova luz, um outro olhar, uma nova contemplação, um novo
sonho, uma nova consideração pelos nossos semelhantes. O Natal é uma oportunidade
para assumir um ideal justo e positivo para a construção da vida e da sociedade.
O
mundo tem necessidade da verdade e da ternura de Deus. O acolhimento do Menino
de Belém dispõe-nos à renovação da vida na alegria da Fé, traduzida em
acolhimento e serviço por amor. Dispõe-nos a assumir “a missão de ser Luz do
mundo e Sal da terra”.
A
todos os diocesanos, famílias, comunidades cristãs, movimentos de apostolado,
cristãos leigos, religiosos e religiosas, seminaristas, diáconos,
aos irmãos sacerdotes, com a especial responsabilidade de
promover as celebrações do Natal com a maior beleza; aos irmãos doentes, idosos
ou com deficiência e aos que deles cuidam em casa, nos lares ou nos hospitais,
aos reclusos nos dois estabelecimentos prisionais de Torres Novas e Tomar
e a todos os que habitam ou trabalham na área geográfica da Diocese, sem
esquecer os que nasceram noutros países mas residem entre nós, para todos os
votos de
Santo Natal, com a melhor saúde, acolhimento, amor e paz.
+ José Traquina, Bispo de Santarém
Sem comentários:
Enviar um comentário