segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Mensagem de Quaresma de 2013- D. Manuel Pelino Domingues

TESTEMUNHAR A VIDA NOVA DOS FILHOS DE DEUS
Quaresma 2013

1. Intensificar a vivência da fé
Queridos diocesanos, irmãos e irmãs no Senhor: O tempo santo da quaresma e da páscoa é uma boa oportunidade para intensificarmos a vivência do ano da fé, procurando fortalecer e rejuvenescer a vida nova em Cristo. Lembro três dimensões da fé a que devemos prestar especial atenção neste ano:
A experiência espiritual de comunicação com Deus, fonte de luz, esperança e amor. Muitos esquecem a oração. Ora ser cristão não pode ser apenas uma tradição exterior mas uma experiência interior de encontro com Cristo Ressuscitado, “fonte de alegria e de renovado entusiasmo” (P F 2), que está vivo e nos acompanha. Para fortalecer a experiência deste encontro gratificante, como Jesus nos ensina no retiro do deserto, precisamos de cuidar do ritmo diário da oração, de escutar mais atentamente a palavra de Deus, de reconhecer e amar a Deus, único Senhor.
Conhecer melhor o tesouro da fé. Em tempos de descrença e de suspeitas sobre a fé católica, precisamos de nos esclarecer sobre o fundamento do cristianismo: em quem acreditamos e porque acreditamos? Assim podemos vivê-lo com alegria e enfrentar sem medo os preconceitos, as críticas mal-intencionadas e a insegurança.
Testemunhar a fé. Somos chamados a colaborar ativamente numa nova evangelização. Muitos se afastam e deixam apagar a luz da fé. Verifica-se, por outro lado, uma rutura na transmissão da fé às novas gerações. Neste ambiente de descrença, nós fiéis, que recebemos a luz de Cristo, devemos ir ao encontro dos que não vêm e indicar o caminho da verdade e da vida. O ano da fé é também um convite a cada fiel e a cada comunidade para realizar iniciativas missionárias que evangelizem os afastados.
2. Exercícios espirituais
Para fortalecermos a fé, nas dimensões atrás referidas, a igreja recomenda-nos alguns exercícios espirituais:
Retiro, tempo em que nos retiramos da dispersão quotidiana para criarmos ambiente de silêncio e de procura de Deus. Todos precisamos de momentos de meditação e concentração na oração para vencermos a superficialidade e prestarmos atenção à presença de Deus. Procuremos, portanto, encontrar espaços e oportunidades para meditação espiritual ou retiro a sós, em comunidade ou participando em retiros diocesanos.
Escuta da Palavra de Deus.Nos livros sagrados, o Pai que está nos céus, vem amorosamente ao encontro dos seus filhos a conversar com eles” (DV 21). Procuremos fazer um programa onde haja tempo para a “ lectio divina” (a sós; ou em grupo; ou em comunidade); não deixemos, este ano, de fazer a leitura do evangelho de São Lucas; cuidemos da escuta atenta e frutuosa dos textos litúrgicos; participemos em encontros de formação cristã; dediquemo-nos a leituras de teor espiritual.
Reaprender a oração.Senhor ensina-nos a rezar”, pediram os apóstolos e devemos procurar nós também neste ano da fé. Como ensina um conhecido monge, (Manicardi): “Não há fadiga tão grande como orar a Deus”. Na verdade, a oração não é apenas a expressão espontânea dos nossos sentimentos mas uma procura constante de diálogo em que escutamos Deus e lhe falamos. A comunicação com Deus próximo mas escondido supõe esforço espiritual: “o combate espiritual da vida nova do cristão é inseparável do combate da oração. (CIgC 2725).
Reconciliação. Dom pascal de Cristo Ressuscitado, o sacramento da penitência ou reconciliação, associado ao dom do Espírito Santo, cura-nos dos pecados e fortalece-nos para o percurso espiritual da vida nova da páscoa. Não deixemos de celebrar este sacramento como expressão da conversão quaresmal. Como afirma o Catecismo da Igreja católica: “Para aqueles que recebem o sacramento da penitência de coração contrito e disposição religiosa, este sacramento é seguido da paz e da tranquilidade da consciência, acompanhadas de uma grande consolação espiritual” (CIgC 1469).
Caridade. A fé age pela caridade e mostra-se nas obras. A caridade leva-nos a abrir o coração aos outros, sobretudo os que mais necessitam, e a partilhar com eles tanto os bens materiais como o afeto, a ajuda e a fé. Num ambiente de insegurança, desalento e individualismo, é necessário que o amor fraterno se traduza numa rede de relação comunitária que a todos integre e faça sentir membros da comunidade cristã.
Vamos destinar a nossa renúncia quaresmal deste ano a uma diocese da Síria, Alepo, uma das cidades mais destruídas e martirizadas pela guerra sangrenta entre o governo dessa nação e as forças rebeldes.
Para viver o ano da fé procuremos participar na “semana da fé” na nossa comunidade, nas “jornadas vicariais festivas” e “no dia diocesano”. Assim podemos crescer na comunhão fraterna e na missão. É o significado da barca, imagem da igreja, onde está presente Cristo que não nos deixa naufragar nas tempestades da vida. Jesus é o Salvador dos Homens (JHS segundo as iniciais latinas indicadas na barca). Procuremos a Sua graça. Ele é “a porta da fé”, “o caminho novo e vivo” que ilumina e transforma a vida. Que a quaresma e a páscoa nos levem a viver e a testemunhar com alegria a nossa fé cristã.

+Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém

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